domingo, 19 de agosto de 2007

Os Fungos: a sua vida e como influenciam a nossa...

Os fungos são organismos extraordinários que a ciência colocou num reino próprio (Reino Fungi), possuindo uma enorme capacidade de adaptação e colonização dos mais diversos meios. Para o bem e para o mal, os fungos estão para ficar!...

Joana Henriques



No dia-a-dia convivemos com numerosos fungos ou com seus produtos e nem damos conta! Os vinhos, queijos, podridões dos frutos ou a doença vulgarmente chamada "pé-de-atleta" parecem, à primeira vista, ter pouco em comum, contudo todos resultam da actividade de fungos. Os fungos estão presentes em quase todos os nichos ecológicos, são um grupo muito diversificado e numeroso (figura 1). Estão descritas cerca de 69000 espécies de fungos embora estejam estimadas 1500000 espécies diferentes por todo o mundo!

O maior fungo conhecido, talvez também o maior e mais velho organismo vivo, é Armillaria ostoyae. Um exemplar descoberto no ano 2000, na Floresta Nacional de Malheur (Oregon, Estados Unidos), ocupa uma área subterrânea de 900 hectares. Este fungo vive enterrado e só se torna visível com as chuvas de Outono. Nessa época, surge à superfície na forma de cogumelos, junto a árvores que o fungo ataca e mata.
Os primeiros registos de fungos datam de 300 a 200 a.C., são estatuetas representativas de cogumelos. Os fungos, principalmente os cogumelos, sempre desempenharam um papel importante nas mitologias das civilizações primitivas, a sua associação com o mundo sobrenatural ainda hoje está presente nas culturas e tradições de muitos povos. O uso de cogumelos alucinogénicos ou a mística dos fungos bioluminescentes ilustram exactamente esse tipo de situações. Os fungos bioluminescentes são vulgares nas florestas tropicais, onde crescem nas árvores em decomposição, mas também se encontram com frequência nos bosques das regiões temperadas (figura 2). A sua luminosidade é provavelmente uma adaptação que ficou do tempo em que os fungos tinham que se livrar do oxigénio em excesso existente na atmosfera, que não podiam utilizar. Alguns cientistas, contudo, pensam também que a sua luminosidade atrai insectos à noite, o que ajuda na dispersão dos esporos. As jovens de alguns povos das regiões tropicais utilizam cogumelos brilhantes como pintura do corpo, na esperança que ela atraia potenciais parceiros.

Embora nem sempre nos apercebamos, podemos afirmar que dificilmente passa um dia em que todos nós não somos beneficiados ou prejudicados directa ou indirectamente pelos fungos! Eles são fontes extremamente valiosas de compostos químicos, como os antibióticos, mas também possuem um grande potencial no controlo biológico de muitas pragas e doenças consideradas graves. O exemplo mais famoso é o antibiótico descoberto por Alexander Fleming em 1928, a Penicilina. Este antibiótico, ainda hoje muito utilizado, foi inicialmente produzido comercialmente a partir do Penicillium chrysogenum. O uso da penicilina foi generalizado com a II Guerra Mundial, em que desempenhou um papel determinante, salvando muitas vidas.
Os fungos são também muito utilizados na nossa alimentação (figura 3). O cogumelo que comemos mais frequentemente é o Agaricus brunnescens, mas são várias as espécies cultivadas para consumo. Para além do seu sabor, os cogumelos têm um elevado valor nutricional e alguns têm ainda propriedades medicinais e até afrodisíacas. No entanto, é importante não esquecer que nem todos os cogumelos são comestíveis, muitos deles são extremamente venenosos! Vários fungos são utilizados na produção de alguns dos nossos alimentos, como o queijo Roquefort produzido pelo Penicillium roquefortii, o pão ou a cerveja que resultam da fermentação de açucares pela levedura Saccharomyces cerevisae.

Os fungos conseguem utilizar muitos substratos diferentes como fonte de alimento, incluindo tecidos, madeiras, vários produtos derivados de petróleo e, claro, a grande maioria dos nossos alimentos. Apesar de todos os esforços para proteger e conservar os alimentos, alguns fungos podem causar estragos por apodrecimento mas também produzir substâncias muito tóxicas, as micotoxinas, em produtos vegetais que consumimos directamente ou para consumo animal. Estas substâncias podem causar graves doenças a nível renal, respiratório, neurológico ou hepático e mesmo vários tipos de cancro.
Uma grande variedade de fungos pode infectar directamente os animais, inclusive os humanos, causando micoses. Estas doenças vão desde irritações superficiais na pele a infecções mais graves que podem envolver os músculos, ossos e órgãos internos. Algumas destas doenças podem ser fatais, especialmente para pessoas com o sistema imunitário debilitado. Contudo, são vários os fungos que vivem associados a animais sem lhes causar quaisquer problemas em condições normais, por exemplo, as leveduras das mucosas humanas ou os fungos que vivem em simbiose com insectos.

Outro grave problema provocado por fungos são as doenças de plantas que causam graves prejuízos na agricultura (figura 4). A maioria das plantas estão sujeitas ao ataque de diferentes fungos patogénicos cujas consequências vão desde o desenvolvimento de sintomas quase insignificantes à morte das plantas atacadas. No entanto, nem todos os fungos associados a plantas são prejudiciais: as micorrizas resultam da associação de um fungo com as raízes de plantas em que ambos são beneficiados: o fungo usa a planta como fonte de alimento mas em contrapartida fornece nutrientes e protecção contra algumas doenças e poluição. Os líquenes são outro exemplo da associação de fungos com algas que é boa para os dois organismos.
Os cogumelos desde sempre chamaram a atenção dos naturalistas mas foi com a invenção do microscópio, no século XVII, que teve início o estudo sistemático dos fungos. Foi o Padre Antonio Micheli, um botânico italiano, que em 1729 incluiu pela primeira vez observações sobre fungos no seu livro Nova Plantarum Genera. Nasceu, então, a Micologia como a ciência que estuda os fungos, sua forma, estrutura, processos vitais, modo de vida, ecologia, origem, classificação e distribuição. A micologia tem muitas aplicações, que vão desde o combate de doenças provocadas por fungos até à biotecnologia, incluindo o desenvolvimento de antibióticos, a fermentação do vinho e da cerveja, a cozedura e a produção de corantes.

Tradicionalmente classificados como plantas, os fungos são hoje classificados num reino próprio, por serem tão diferentes na sua estrutura, no modo como se desenvolvem e no modo como se alimentam. Embora definir os limites exactos deste grupo seja uma tarefa muito difícil, há características gerais comuns a todos os fungos.

São organismos eucarióticos (as suas células contêm núcleos envoltos por uma membrana nuclear), unicelulares (as leveduras) ou desenvolvendo-se em finos filamentos (as hifas) que se estendem e ramificam nas pontas, formando uma rede ou micélio. Embora cada hifa apenas possa ser visualizada ao microscópio, são comuns os "fofos" micélios dos bolores vulgares. Alguns fungos mais simples não são mais do que redes de tubos contínuos de material celular (citoplasma e outros organitos) com vários núcleos individualizados encerrados numa parede celular. Em contraste com isto, alguns fungos mais complexos possuem hifas mais organizadas e especializadas formando, por exemplo, os conhecidos cogumelos. As hifas podem crescer a uma velocidade de 0.035mm por minuto, o que não é pouco: são 2.1mm por hora ou 5cm por dia!

Os fungos não possuem clorofila como as plantas verdes, pelo que não conseguem utilizar a energia solar para produzir o seu próprio alimento (são organismos heterotróficos). Alimentam-se dissolvendo e digerindo matéria orgânica e mineral do meio onde vivem. Para isso possuem um sistema de enzimas digestivas que segregam sobre os seus alimentos, absorvendo depois os produtos solúveis directamente através das hifas. Esta característica é determinante para uma das principais actividades dos fungos: são decompositores juntamente outros microrganismos, desempenhando assim um papel crucial no ciclo natural da vida. Ao decomporem substâncias de animais e vegetais mortos eles conseguem extrair nutrientes que repõem na natureza de forma disponível a ser utilizada por outros organismos, que são então reciclados numa nova geração de vida vegetal e animal. Esta é ainda uma das características que lhes confere a capacidade de colonizar e sobreviver em condições adversas à maioria dos seres vivos. Há aproximadamente 50 espécies de fungos carnívoros. Por exemplo, o Arthrobotryx anchonia captura nemátodes, pequenos vermes muito abundantes no solo. Para esse efeito, possui umas armadilhas em forma de anel que estrangulam a presa (figura 5).
A reprodução dos fungos faz-se pela produção de esporos. Um esporo é uma célula única, muitas vezes rodeada de um revestimento protector, a partir da qual se pode desenvolver um novo organismo. O processo de formação dos esporos é muito variável e determinante do modo de vida e classificação dos fungos. Alguns esporos são formados a partir de um único indivíduo, sem que haja formação de células sexuais (reprodução assexuada), por segmentação das suas hifas ou pela produção de hifas especializadas que formam estruturas reprodutoras de aspecto muito diversificado que produzem uma enorme quantidade de esporos geneticamente idênticos (figura 6). Outros envolvem a união de dois núcleos compatíveis, do mesmo indivíduo ou de indivíduos diferentes, provenientes de células sexuais formadas em estruturas especializadas (reprodução sexuada). Os esporos formados por este tipo de reprodução irão dar origem a indivíduos geneticamente diferentes dos seus progenitores, o que pode ser uma vantagem em termos de adaptação às condições do meio. Alguns fungos reproduzem-se dos dois modos (por reprodução assexuada e sexuada) ao longo do seu ciclo de vida. Existem fungos que perante condições adversas produzem esporos de resistência, com uma camada protectora e tecidos de reserva alimentar no seu interior, que lhes permite aguardar pelas condições adequadas ao seu desenvolvimento.
A reprodução dos fungos faz-se pela produção de esporos. Um esporo é uma célula única, muitas vezes rodeada de um revestimento protector, a partir da qual se pode desenvolver um novo organismo. O processo de formação dos esporos é muito variável e determinante do modo de vida e classificação dos fungos. Alguns esporos são formados a partir de um único indivíduo, sem que haja formação de células sexuais (reprodução assexuada), por segmentação das suas hifas ou pela produção de hifas especializadas que formam estruturas reprodutoras de aspecto muito diversificado que produzem uma enorme quantidade de esporos geneticamente idênticos (figura 6). Outros envolvem a união de dois núcleos compatíveis, do mesmo indivíduo ou de indivíduos diferentes, provenientes de células sexuais formadas em estruturas especializadas (reprodução sexuada). Os esporos formados por este tipo de reprodução irão dar origem a indivíduos geneticamente diferentes dos seus progenitores, o que pode ser uma vantagem em termos de adaptação às condições do meio. Alguns fungos reproduzem-se dos dois modos (por reprodução assexuada e sexuada) ao longo do seu ciclo de vida. Existem fungos que perante condições adversas produzem esporos de resistência, com uma camada protectora e tecidos de reserva alimentar no seu interior, que lhes permite aguardar pelas condições adequadas ao seu desenvolvimento.
Estas são as principais características dos fungos, que os individualizam num reino próprio (Reino Fungi) e lhes confere uma enorme capacidade de adaptação e colonização dos diferentes ambientes terrestre. Para o bem e para o mal, os fungos estão para ficar!...

5 comentários:

  1. QUERO SABER EXEMPLOS DE TUBÉRCULO E BROTOS

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  2. oi adorei o seu blog!estava procurando sobre todos os tipos de fungos prejudiciais e achei seu blog!adorei!se quiser visitar o meu é:dudylove.blogspot.com

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  3. Por que a reprodução de esporos é uma adaptação importânte para organismos como os fungos?

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